Esse artigo contém sugestões de como melhorar os gráficos, baseadas na nossa experiência (como autores e revisores) e em recomendações dadas por revistas científicas e pelo American Institute of Physics (AIP) [1].
Primeiro. Identifique o objetivo do gráfico, i.e., o que se pretende comunicar? O objetivo é demonstrar que a resposta é linear com o estímulo? Ou é demonstrar a reprodutibilidade de um experimento?
As escolhas feitas durante a preparação do gráfico (por exemplo, dados apresentados, tipo de gráfico, tipo de escala, região de interesse, etc.) têm o objetivo de evidenciar o significado dos dados. Portanto, essas escolhas devem ser guiadas pelo que estamos tentando comunicar e devem tornar a comunicação a mais clara possível. O gráfico não é simplesmente um “lugar onde se colocam os dados”.
Segundo. Recomendamos a utilização de um software apropriado para gráficos científicos. Gráficos preparados em Excel em geral têm uma qualidade inferior quando comparados a gráficos preparados usando programas apropriados, como por exemplo o MicrocalTM Origin (MicroCal Software, Inc.) e o SigmaPlot (Systat Software, Inc.).
Terceiro. O gráfico precisa ser claro e fácil de “ler”. Segundo o AIP, os gráficos devem ser auto-explicativos [1]. A Figura 1 apresenta um gráfico obtido com o Microcal Origin, mas sem qualquer modificação. Este exemplo contém muitos problemas: as escalas são difíceis de ler, as curvas estão muito claras, quase desaparecendo, o significado das curvas requer a leitura da legenda e o título é desnecessário. Embora a Figura 1 tenha sido preparada para ilustrar esses problemas, é comum ver esse tipo de gráfico em manuscritos submetidos para publicação.
Baseado na Figura 1, as seguintes modificações podem ser feitas:
- Aumente o tamanho das letras e dos números. O tamanho deve ser adequado para a leitura depois de redução para o tamanho de impressão.
- Use melhor a área do gráfico. O espaço do gráfico deve ser usado de forma eficiente para ilustrar a idéia a ser comunicada; o AIP considera inaceitável figuras com grandes áreas em branco ou sem material gráfico [1].
- Elimine o título. O título é desnecessário em artigos publicados, uma vez que a informação essencial é fornecida na legenda do gráfico.
- Aumente a espessura das linhas. A visualização das linhas deve ser possível depois da redução para o tamanho da impressão.
- Indique o significado das curvas no gráfico. Isso é recomendado pelo AIP e torna a leitura do gráfico mais direta.
- Altere a escala para facilitar a leitura. Indique as unidades e potências apropriadamente. Seguindo recomendação do AIP, podemos usar “TL intensity (106 cps)” ou 106 TL intensity (cps) mas nunca TL intensity × 106 cps ou TL intensity/106 cps devido à ambiguidade (TL intensity × 10 6 cps indica que os dados foram multiplicados por 106 ou que eles ainda devem ser multiplicados por 106)? [1].
Usando essas sugestões obtemos a Figura 2 abaixo, muito mais direta, clara e profissional do que a Figura 1.
O uso de cor na Figura 2 não é necessariamente um problema, contanto que a impressão em preto-e-branco seja satisfatória. Muitas revistas imprimem o artigo em preto-e-branco, mas mantém o gráfico em cores na versão digital disponível online. (Ainda assim a figura não é perfeita: a curva da amostra 3 pode ser um pouco difícil de enxergar.)
A escolha dos símbolos também pode afetar o entendimento dos gráficos. Compare as Figuras 3 e 4 abaixo. Qual delas é a mais fácil de entender? A sugestão é: na medida do possível, escolha símbolos que sejam simples e fáceis de distinguir.
Antes de preparar o manuscrito, é importante ler com atenção as orientações dadas pela revista científica na qual se pretende publicar o artigo. Acima de tudo, é necessário ter constantemente a preocupação em apresentar a informação de forma mais clara possível, o que contribui para o entendimento do artigo em geral.
Leia também:
- Como expressar incertezas nos resultados de medição em publicações científicas
- Apresentando resultados consistentes com a incerteza
Referência:
1. AIP, AIP Style Manual. (American Institute of Physics, Woodbury, 1990).
Contribuíram para este artigo: Stefanie Menusso e Emico Okuno.
Pingback: Principais erros a evitar ao preparar um manuscrito | Ciência Prática
Orientações muito úteis para serem levadas às aulas de leitura e análise de artigos científicos tanto em nível de Graduação quanto de Pós-Graduação.
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Poderiam me dizer o site que consigo baixar o MicrocalTM Origin (MicroCal Software, Inc.) e o SigmaPlot (Systat Software, Inc.), se são free e caso contrario quais podem substitui-los e que posso fazer download. Att
Susi
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Aqui estão os sites do Origin (http://www.originlab.com/) e do SigmaPlot (http://www.sigmaplot.com/products/sigmaplot/sigmaplot-details.php). Esses programas não são os únicos, mas são os que eu conheço. (Alguém tem outras sugestões?)
Infelizmente eles são relativamente caros, mas há versões com preço reduzido para estudantes e licenças para múltiplos usuários. (Deve ser possível comprar com reserva técnica de bolsa).
Um amigo (Gabriel Sawakuchi) recomenda um programa gratuito chamado “Grace” (http://plasma-gate.weizmann.ac.il/Grace/).
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Incrivelmente fui tentar comprar o Origin: 550 dólares para download, se você mora nos Estados Unidos ou Canadá. Para quem mora no Brasil, contactar um representante de Campinas que cobra, pelo mesmo software, 4.000 Reais???
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Alessandro: veja nos comentários sugestões de outros programas gratuitos. Se você achar alguma coisa gratuita interessante, ajude-nos escrevendo um artigo sobre o programa. Veja também se não há descontos acadêmicos – alguns programas (e.g. LabView) tem descontos enormes para Universidades e estudantes.
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Gostei muito do artigo e das considerações.Alguns pontos levantados me permitiu avaliar como eu estava usando o EXCEL e pretendo utilizá-lo a partir de agora como uma ferramenta mais crítica e comunicativa.
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Republicou isso em Na savana do Alto Rio Branco.
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