O caderno de medidas é um documento extremamente importante na produção científica. Ele permite:
- Retraçar os passos de um experimento, ajudando na análise dos dados, na averiguação dos resultados e na identificação de problemas com o experimento.
- Registrar todas os detalhes experimentais a serem apresentadas nas publicações.
- Provar a precedência de uma descoberta ou invenção.
Em princípio, um pesquisador treinado na mesma área deve ser capaz de repetir o experimento e reproduzir os resultados usando as notas do caderno de medidas.
Falhas em tomar notas apropriadamente podem ter consequências graves e até impedir a publicação de um artigo. Em casos controversos, um caderno de medidas incompleto, principalmente sem anotações dos dados originais, abre a possibilidade do pesquisador ser acusado de fraude.
Para manter um caderno de medidas organizado e completo, siga essas sugestões:
- Use um livro encadernado contendo páginas numeradas. Escreva na capa o seu nome, informações de contato, título do projeto e período correspondente.
- Reserve as primeiras páginas para o sumário e preencha-o à medida em que o caderno vai sendo usado.
- Comece cada experimento em uma nova página, colocando no topo da página a data, título do experimento ou estudo e participantes.
- Faça um diagrama do arranjo experimental. Anote o tipo de equipamento, modelo, fabricante e parâmetros usados na medida.
- Registre o horário ao lado de novas anotações.
- Use caneta. Se necessário, registre os erros apenas com uma linha sobre as anotações erradas, para que as anotações continuem legíveis. Cálculos podem ser feitos a lápis.
- Cole no caderno: gráficos, resultados de cálculos realizados em computador, fotos do equipamento, etc. Se os dados foram tomados por outros participantes, faça uma xérox dos dados originais e cole no seu caderno de medidas.
- Faça todas as anotações no caderno de medidas; nunca use folhas soltas. (Se necessário, cole as folhas soltas com anotações no caderno.)
- Registre sempre os dados obtidos (antes de qualquer análise ou cálculo) e indique todos os cálculos realizados para que qualquer um possa reproduzir os cálculos feitos. (Fazer cálculos de cabeça anotando apenas o resultado final causa confusão e impede que a análise possa ser verificada.) Indique as escalas usadas nas medidas, estimativas das incertezas e unidades.
- Nomeie cada arquivo de dados obtido de forma que possa ser encontrado no caderno de medidas sem ambiguidade. Eu uso um padrão contendo o ano, mês e dia do experimento, nessa ordem, como por exemplo: “11041101.dat”. Dessa forma eu sei que o arquivo corresponde ao experimento 01, do dia 11 de abril de 2011. A ordem dos números é para que os arquivos sejam listados em ordem cronológica. Como hoje o nome do arquivo não está restrito a oito caracteres, outras notas podem ser incorporadas ao nome do arquivo (e.g. “11041101 – dose response.dat”). No entanto, mantenha sempre uma identificação única, no caso “11041101”. (Evite, por exemplo, “11041101 amostra 1.dat”, “11041101 amostra 2.dat”; apesar do nome do arquivo ser único, falta informação sobre a sequência na qual os arquivos foram obtidos, i.e., nada impede que a amostra 2 tenha sido medida antes da amostra 1.)
- Anote todas as conclusões ou observações feitas durante o experimento. Isso facilita lembrar a relevância de cada experimento. Indique o autor de observações feitas por outros participantes.
Outras observações importantes:
- Certifique-se de que os detalhes anotados serão compreensíveis no futuro. Pergunte-se se em 2-3 anos você seria capaz de se lembrar de todos os passos do experimento usando as notas que tomou.
- Não adie a análise preliminar dos dados: cole uma cópia dos gráficos ou tabelas com os dados no caderno de medidas no mesmo dia.
Contribuiu para este artigo: Stefanie Menusso.
Olá,
boa tarde, obrigada pelas dicas. Estou cursando bacharelado em física e hoje em dia o caderno de medidas não é levado à serio, mesmo no IFUSP…
grata
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Marjorie, obrigado pelo comentário. De fato a gente só percebe a importância do caderno de medidas na hora de escrever um artigo ou a tese… No meu grupo a gente usa o caderno bastante na hora de discutir os projetos de pesquisa. Por isso, eu insisto bastante que os alunos coloquem os resultados (gráficos) no caderno para facilitar a discussão.
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Verdade, o caderno é essencial na hora de reconstruir a história do projeto, no momento de elaborar o artigo. Porém as pessoas que trabalham conosco não o usam corretamente, logo a história pode ficar “capenga”, consequentemente o artigo também. Excelente texto, vou até salvar aqui.
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O melhor que eu encontrei até hoje sobre esse assunto é este daqui:
Kanare, Howard M: Writing the Laboratory Notebook. Washington D.C.: American Chemical Society, 1985. ISBN 0 8412 0933 2
Entra em detalhes que você não encontra fácil por aí. Vem com um apêndice mostrando fotos de páginas de cadernos de laboratório de cientistas conhecidos, e outros nem tanto, como o do cara que batizou os “bugs” da programação. Está lá a foto da página, com o inseto pregado com fita adesiva ao lado da anotação registrando a eliminição desse bug que tinha parado o sistema dele.
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Zenon, boa dica! Vou dar uma olhada nesse livro.
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